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Mais um na carona do plástico pelo ambiente marinho

Texto publicado na Coluna da Global Garbage. Série Especial Lixo Marinho Mercado Ético.

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A invasão do plástico no ambiente marinho continua a trazer novas implicações a medida que os estudos científicos avançam. Os famosos “pellets plásticos” (forma principal das resinas plásticas que servem de matéria prima para a indústria) podem ser encontrados em praias, a deriva no mar e consequentemente ingeridos por espécies marinhas.

A utilização do plástico como plataformas para dispersão de espécies invasoras (aliens species) é bem conhecida. Dessa vez, pesquisadores que estudam o impacto do lixo marinho, perceberam que eles podem estar realizando o transporte de metais como cobre, níquel, chumbo e afins.

Os pellets plásticos geralmente apresentam formato cilíndrico, esférico ou oval, de cor branca ou translúcida (quando novas) e em tamanho de 1-5 mm de diâmetro. A depender do tempo que ficam disponíveis no ambiente, os pellets passam por processos físicos como erosão e desgastes por abrasão, podendo apresentar variadas colorações (ex. preto, cinza, amarelo).

A equipe examinou em laboratório os mecanismos de adsorção (adesão de moléculas de um fluido a superfície sólida) de metais traço por resinas plásticas virgens e também coletadas em praias do Sudoeste da Inglaterra. O artigo de investigação (Holmes et al., 2012) pode ser lido na íntegra na revista científica Environmental Pollution.

Foi observado que as concentrações de determinados metais (Cr, Co, Ni, Cu, Zn, Cd e Pb) no estudo são variáveis dentro das amostras de um mesmo ponto e entre estes, não havendo relação evidente entre a concentração dos metais e a cor ou forma dos pellets.

Segundo os autores, uma observação surpreendente é que em alguns casos os resultados excedem as concentrações em sedimentos do estuário local. Isto é possível, visto a superfície geométrica dos pellets quando comparada a superfície de sedimentos estuarinos.

Os cientistas da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, dizem que a associação de metais traço com o plástico é provavelmente um fenômeno geral, tanto em relação a outros ambientes aquáticos quanto em respeito a diferentes tipos e tamanhos de plástico.

Os plásticos podem ser considerados como um veículo para transporte de metais (a distâncias consideráveis, enquanto flutuante) em sistemas aquáticos que não tinham, até agora, sido reconhecidos, segundo Holmes e colaboradores.

Um grande problema desta associação é a possibilidade de transferência de contaminantes pela cadeia alimentar. Espécies marinhas como peixes, aves, tartarugas e mamíferos, após a ingestão acidental de plástico, apresentam potencial bioacumulativo ou ainda na sua liberação, um retorno ao ambiente marinho numa forma mais solúvel e biologicamente disponível.

Apesar do plástico ter trazido muitos benefícios ao modo de vida atual, o seu mau gerenciamento (desde matéria-prima e manufaturados) e resultante despejo inadequado, vem propiciando claramente um advento de impactos potenciais ao ambiente global.

Referências

.de Carvalho Souza, G.F. 2011. Mais um na carona do plástico pelo ambiente marinho. Série Especial Lixo Marinho Mercado Ético. Global Garbage.

Holmes, L.A., Turner, A., Thompson, R. 2012. Adsorption of trace metals to plastic resin pellets in the marine environment. Environmental Pollution Volume 160, January 2012, Pages 42-48.

Foto de capa: International Pellet Watch

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Gustavo F. de Carvalho-Souza

Biólogo, PhD, Mergulhador Científico e Consultor Ambiental. Nasceu em Salvador, Bahia, Brasil. Autor de dezenas de trabalhos técnicos, artigos científicos e de divulgação. Participou e/ou Coordenou projetos de monitoramento ambiental financiados por instituições e empresas nacionais e internacionais ao longo dos últimos 15 anos. Atualmente desenvolve programas ambientais e de inovação, criando soluções sustentáveis para empresas e cidades.

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