O lixo no mar afeta ecossistemas costeiros e marinhos em todo o mundo e a Baía de Todos-os-Santos não é uma exceção. Estes resíduos sólidos (também descritos como lixo marinho, resíduos antropogênicos, em inglês – marine litter / debris) incluem qualquer material sólido que foi descartado incorretamente, perdido ou deixado para trás, seja em praias, manguezais, estuários, recifes de corais ou costões rochosos.
Durante o ano de 2009, realizamos estudos sobre o impacto destes resíduos nos ambientes submersos da Baía de Todos-os-Santos (de Carvalho-Souza, 2009; de Carvalho-Souza & Tinôco, 2011). Os primeiros resultados demonstraram que estes ambientes recifais encontram-se contaminados nas mais variadas escalas, sendo a praia do Porto da Barra a mais contaminada, e o plástico, seu maior estressor. Poderíamos ainda, extrapolar esta situação para todos os demais ambientes recifais urbanos da BTS (incluindo as ilhas) e costa atlântica de Salvador, evidenciando a problemática e medidas urgentes.
Nos anos seguintes, a avaliação deste ecossistema e de outros ambientes recifais ao redor do mundo, mostrou que 418 espécies recifais estiveram interagindo de alguma forma com o lixo no mar (de Carvalho-Souza et al. 2018). Entre os principais impactos podemos destacar o enroscamento (emaranhamento) por petrechos de pesca abandonados (redes, linhas e anzóis), especialmente em corais e peixes recifais.
Na BTS, percebemos que o lixo está associado principalmente ao descarte incorreto e perdas advindas da pesca, sendo todos de origem local. Além disso, alguns itens como garrafas, abadás, pentes, espelhos e afins são oriundos de diversos festejos populares na cidade de Salvador como o Carnaval, festa de Yemanjá e de finais de ano. Nos últimos anos, algumas iniciativas em promover alternativas mais ecológicas para estes itens foram adotadas, mostrando que é possível integrar a cultura, economia e o meio ambiente.
Portanto, podemos perceber que, a gestão dos resíduos sólidos urbanos, sensibilização ambiental e monitoramento destes estressores se faz cada vez mais necessária nos Programas Ambientais a serem realizados na BTS e futuro Plano de Manejo da APA. Por outro lado, o êxito destas medidas e a própria sustentabilidade da BTS, dependem fortemente de uma integração dos diferentes atores locais responsáveis (poder público e privado, frequentadores, banhistas, barraqueiros e trabalhadores em geral, esportistas, pesquisadores e afins) e demais interessados na sua conservação.
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Como citar:
de Carvalho-Souza, G. F. Lixo no Mar da Baía de Todos-os-Santos. Salvador, 05 jan. 2021. Blog Gustavofcsouza. Disponível em: <https://gustavofcsouza.com.br/?p=1>. Acesso em XX/XX/202X.
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