Texto autoral traduzido e atualizado do blog do Instituto Español de Oceanografia do Instituto Original em Espanhol.
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Em um estudo do qual participaram investigadores do Centro Oceanográfico de Cádiz do Instituto Español de Oceanografia (IEO), do Instituto de Investigação Agronómica e Formação Pesqueira (IFAPA) e do Instituto de Ciências Marinhas da Andaluzia (CSIC) publicado na revista Marine Ecology Progress Series descreve os efeitos naturais e antropogênicos derivados das atividades setoriais sobre os juvenis de anchovas (Engraulis encrasicolus) e suas principais presas (misidáceos) no estuário do Guadalquivir, através da análise temporal de 18 anos de dados mensais do monitoramento ecológico do referido estuário.
Os resultados deste estudo sugerem que a temperatura, turbidez e descargas de água doce são fatores chave na regulação do berçario da anchova fornecida pelo estuário do Guadalquivir. Os estuários são habitats conhecidos por sua grande produção biológica e pelos serviços ecossistêmicos que fornecem, como sequestro de carbono, regulação do clima e por seu papel como berçários de muitas espécies. Milhares de crustáceos e peixes, como camarões, enguias ou anchovas, dependem desses habitats essenciais para viver, se alimentar e se reproduzir.
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No estuário do rio Guadalquivir, um dos maiores da Europa, juvenis de anchovas do Golfo de Cádiz entram na primavera e no verão em busca de abrigo e alimento. Também desempenham um papel fundamental na estrutura do ecossistema estuarino, visto que a anchova é uma das espécies mais abundantes e um importante predador de copépodes e misidáceos.
Nesse período, a sobrevivência de seus estágios iniciais depende tanto das condições ambientais e da disponibilidade de alimentos, como dos efeitos das atividades humanas que ocorrem ao longo da bacia hidrográfica. Dentre essas atividades setoriais, destacam-se, a agricultura (ex. cultivo de arroz) devido à sua influência nas condições ambientais (ex. área para cultivo, água doce para irrigação).
O presente estudo desenvolve um modelo que quantifica o efeito de variáveis naturais (ex: temperatura, salinidade) e antropogênicas (ex: descargas de água doce) sobre a abundância de anchovas e suas presas. “O modelo é capaz de quantificar os efeitos diretos e indiretos sobre esses grupos e reproduzir a evolução do ecossistema, incluindo fatores distantes como a atividade humana continental”, explica Gustavo de Carvalho-Souza, doutor pelo IEO/UCA e principal autor do trabalho.
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Outro aspecto importante que os cientistas têm investigado são as implicações em relação à implantação do manejo do ecossistema. As variáveis antrópicas têm a peculiaridade de, em certa medida, serem influenciadas pela forma como os humanos percebem e gerenciam o ecossistema.
A infraestrutura mais importante para o escoamento de água doce no estuário é a barragem de Alcalá del Río, que contribui com 80% do total. Como mostra o infográfico, as descargas têm efeitos diretos sobre a rede trófica do Guadalquivir e indiretos, pois afetam a salinidade e a turbidez, que por sua vez tem um efeito dominó na anchova e nos mísidáceos. “Esses efeitos podem se espalhar para a população adulta, via recrutamento, que é um importante recurso pesqueiro no Golfo de Cádiz”, diz de Carvalho-Souza.
Os cientistas apontam que para que se possa conseguir o manejo do ecossistema nesta região é necessário conciliar o desenvolvimento econômico (agrícola e pesqueiro) e a manutenção do bom estado ecológico desse habitat essencial. Este trabalho foi parte integrante da tese de doutorado de Gustavo F. de Carvalho Souza enquadrada no Campus de Excelência Internacional do Mar (CEIMAR) da Universidade de Cádiz (UCA). Esta tese foi desenvolvida no Centro Oceanográfico de Cádiz, sob orientação do pesquisador Marcos Llope e foi financiada com bolsa de doutorado do Programa Ciência sem Fronteiras da Fundação CAPES do Ministério da Educação do Governo do Brasil.
Referências
de Carvalho-Souza, G. F. 2018. Un nuevo estudio cuantifica los efectos antropogénicos y naturales sobre los juveniles de boquerón en el estuario del Guadalquivir, uno de sus hábitats esenciales. Blog IEO.
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